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Isso é uma Droga, Vou Fazer do Meu Jeito": A Filosofia Anticorporativa que Construiu a Patagônia

E se a chave para construir uma empresa bilionária fosse não querer o seu dinheiro? E se o segredo do crescimento fosse desacelerá-lo de propósito? Essa é a história paradoxal de Yvon Chouinard, o fundador da Patagônia – um alpinista que nunca quis ser empresário, mas que revolucionou os negócios ao adotar uma filosofia simples: quebrar as regras.


1. O Começo no Galinheiro: Do Ferro à Moda

A jornada da Patagônia não começou em um escritório, mas em um galinheiro convertido. Nos anos 50, Yvon era um artesão e alpinista que ficava frustrado com a qualidade do equipamento disponível. As pitons (espigões de metal) europeias, por exemplo, eram feitas para serem usadas uma vez e deixadas para trás, uma filosofia que ia contra a ética de Yvon de "não deixar rastros".

"Eu me tornei um ferreiro. Ensinei a mim mesmo a ferreiraria para poder fazer algum do equipamento de escalada que eu achava que seria melhor do que o disponível."

Ele começou a forjar pitons reutilizáveis de alta qualidade em seu quintal. Mesmo custando dez vezes mais que a concorrência, em uma década ele dominava 80% do mercado norte-americano. Ele não era um empresário; era um artesão resolvendo seus próprios problemas.


2. O Pivô Acidental para as Roupas

A transição para as roupas foi tão orgânica quanto o início da empresa. Em uma viagem à Escócia, Yvon viu uma camisa de rúgubi colorida e resistente. Ele importou algumas, começou a usar para escalar e todos perguntavam onde ele havia conseguido. A demanda nasceu naturalmente.

"As luzes se acenderam. Eu pensei: 'Bem, talvez eu deva importar algumas dessas da Inglaterra e ver se elas vendem'. E venderam."

Ele percebeu que fazer roupas era muito mais lucrativo do que forjar equipamentos de metal. A empresa, que ainda não se chamava Patagônia, estava seguindo um novo caminho, guiada pela necessidade prática e pela paixão por produtos de qualidade.


3. A Filosofia do "Não Crescer"

Diferente de qualquer CEO, Yvon viu o crescimento descontrolado como uma ameaça. Nos anos 80, a Patagônia crescia 50% ao ano, até que uma recessão forçou demissões em massa – uma experiência que ele descreve como "muito difícil" para uma empresa familiar.

A lição foi aprendida da maneira mais dura. A partir daí, Yvon decidiu colocar a empresa em uma "dieta de crescimento".

"Decidimos nos colocar em um programa de crescimento para estar em negócios daqui a 100 anos... é desacelerar o crescimento, dizer 'não' a muitas oportunidades."

Sua verba de publicidade é de míseros 0,5% das vendas. Ele não "alimenta a bomba" para atrair novos clientes. Em vez disso, espera que o cliente diga quanto produzir. Um ano o crescimento é de 3%, no outro, 20%. Para Yvon, existem dois tipos de crescimento: crescer forte e crescer gordo. E ele evita o último a todo custo.


4. "Não Quero Seu Dinheiro": A Revolução do Consumo Consciente

A Patagônia talvez seja mais famosa por suas campanhas que desencorajam o consumo. A empresa criou o maior centro de reparos de roupas da América do Norte, consertando qualquer peça Patagônia, independentemente da idade.

"Comprometemo-nos a ser donos do produto para sempre. Então, quando vendemos uma jaqueta para você, nós ainda somos os donos."

Eles incentivam os clientes a consertarem, venderem no mercado de usados (que eles mesmos facilitam) ou, por fim, devolverem o produto para ser reciclado. Essa mentalidade forçou a empresa a redesenhar produtos para que fossem duráveis, reparáveis e recicláveis desde o início.


5. Deixe Meu Povo Ir Surfar: Uma Cultura Única

Yvon rejeita a gestão "top-down". Ele acredita em contratar pessoas independentes e motivadas e depois... deixá-las em paz.

"Temos uma política de que, quando as ondas ficam boas, você larga o trabalho e vai surfar. Eu não me importo quando você trabalha, contanto que o trabalho seja feito."

Ele admite que essa cultura não pode ser implantada da noite para o dia em qualquer empresa. Ela começa com a primeira pessoa que você contrata. Um psicólogo que estudou seus funcionários uma vez disse a Yvon: "Seus funcionários são os mais independentes que já vi em qualquer empresa. Eles são tão independentes que são inempregáveis em qualquer outro lugar".


A Arte de Quebrar as Regras

Yvon Chouinard é a personificação de sua citação favorita: o empreendedor como um "delinquente juvenil" que olha para o status quo e diz: "Isso é uma droga, vou fazer do meu jeito".

Sua motivação nunca foi o dinheiro, mas a liberdade, a qualidade e a responsabilidade. Ele não competiu com as grandes empresas; ele criou um jogo completamente novo. E nesse jogo, sucesso não é medido apenas pelo lucro, mas pela durabilidade, pela integridade ambiental e pela qualidade de vida de seus funcionários.


A história da Patagônia é uma prova poderosa de que, às vezes, a maneira mais radical de vencer nos negócios é se recusar a jogar pelas regras convencionais.


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